entrevista ao jornal nippo brasil (2009)

(Entrevista publicada em 2009)

NP: Você é paulistana? Qual a sua idade? Formação profissional?

AS: Sim, tenho 38 anos e sou formada em engenharia de computação pela Unicamp.

NP: Quando e por que começou a “fazer arte”?

AS: Eu era muito aficcionada em tecnologia, me formei em engenharia de computação e logo comecei a trabalhar nos primeiros projetos de implantação da internet no país, isso foi de 1992 a 2002. Éramos bem ingênuos, de achar que “estávamos mudando o mundo”… Foi algo excitante, coletivo e muito criativo durante alguns anos, mas com a disseminação da tecnologia e o estouro da “bolha” em 2000, a realidade do mundo corporativo veio à tona. Realmente um estouro da “bolha”… Daí, éticamente ficou impossível. Foi nesse momento, em 2000, que iniciei uma transição e passei a me envolver com “arte” strictu-sensu. Foram alguns cursos, e tive minha produção orientada pelo Dudi Maia Rosa por cerca de cinco anos. Foi uma mudança forte.

NP: Poderia definir o seu estilo?

AS: Prefiro não pensar em “estilo”. Penso em sempre experimentar, independentemente de linguagem, meio ou situação anterior. Tenho trabalhado a partir de uma idéia de pintura expandida para pensar determinados contextos, mas acho que a construção de uma poética pode ser livre de “estilo” ou mesmo de um “discurso” mais fechado, programado. Prefiro pensar que o observador, cada um, pode realizar sua leitura particular a medida que vou propondo os trabalhos. Se há afinidades, tensões, e mesmo insucessos, prefiro deixar a cargo do repertório particular de cada um. É claro que a medida que o trabalho for sendo exposto, for amadurecendo, algumas questões que são caras e comuns, que não necessariamente um estilo ou um discurso, vão se tornando mais explícitas para o público, e também para mim. Importante deixar isso a cargo do tempo e do olhar de cada um. E andamos um tanto saturados de “discursos”, não?

NP: Há um artista que seja sua fonte inspiradora? Se não, o que ou quem é sua fonte inspiradora?

AS: Não tenho um artista específico como referência. Por exemplo, gosto muito do pensamento do Olafur Eliasson, dos filmes do Michelangelo Antonioni, da insanidade da Yayoi Kusama, e tantos outros. Mas não me restrinjo a eles e o bacana é descobrir novas referências, seja especificamente nas artes plásticas ou não.

Na base, acho que a fonte de inspiração é o nosso mundo, como o é para todos. É a nossa relação com esse mundo, com esse nosso tempo, é pensar sobre isso, é se perguntar sobre isso. Acho que vivemos em uma época bastante singular, não muito fácil, mas também absolutamente potente para olhares curiosos. E pensar sobre esse nosso olhar, a quantas anda o nosso olhar nessa condição em que vivemos (ou em que nos anestesiamos… Essa é uma questão cara, a gente vai se anestesiando e nem se dá conta disso…). É um prato-cheio.

NP: Hoje em dia é difícil viver de arte? Qual a principal dificuldade para um “artista emergente”?

AS: Assumindo que “viver de arte” significa estar inserido no “circuito de arte” (galeria, feiras, marchands, curadores, etc), tenho algumas considerações:

Há um lado positivo que é um crescimento mais sustentado desse circuito do que em épocas anteriores, há uma profissionalização das galerias, marchands, etc em curso. Por outro, há uma demanda muito maior de jovens artistas querendo participar desse circuito, e de artistas, que já estão lá, querendo permanecer nesse circuito. Se olharmos somente o número de alunos que se formam pelas faculdades de artes plásticas (o que não é garantia de formação), são pelo menos 300, 400 novos “artistas” para entrar no “mercado profissional” por ano…

Essa demanda acabou gerando todo um “mecanismo” de inserção e legitimação no circuito, uma espécie de “funil”, que começa com a participação em salões de arte, de expor em instituições como o Centro Cultural São Paulo e o Paço das Artes, e, por fim, passar a ser representado por uma galeria do circuito, expor individualmente de tempos em tempos com o endosso de um texto crítico, passar a participar de feiras internacionais… Cresce, pelo menos em São Paulo, a oferta de cursos e “consultorias” para realizar esse caminho, como estabelecer um discurso para seu trabalho, como editá-lo, como formatar sua apresentação, como montar um portifólio, como se tornar um “artista emergente”. Ou seja, ao contrário de outros tempos, hoje existe um certo “caminho das pedras” para essa “profissionalização”.

Nesse panorama, acho que existe uma questão muito importante do ponto de vista ético para um jovem artista: seu foco de atenção. O desenvolvimento de um trabalho, a construção de uma poética não necessariamente passa por um reconhecimento imediato por parte do circuito comercial. No exterior, Europa e EUA, são as instituições, os museus e centros culturais, que dão conta de acolher essa pesquisa. No Brasil, onde não há políticas públicas nesse sentido, em que as instituições culturais estão praticamente falidas, é o mercado quem tem ditado as “referências” em arte, com uma notável condescendência de artistas, curadores, críticos… Acho importante participar do mercado, a profissionalização, mas ainda mais importante, eu diria vital, é manter o trabalho arriscado, passível de erros, fresco, para além dessas demandas, e mesmo, sim, para além até de uma “consolidação” poética. De modo geral, imagino ser essa a principal dificuldade para um artista hoje, “emergente” ou não. Isso a depender das suas motivações e da sua relação com a arte e com a vida.